O filme “Batman vs Superman: A Origem da Justiça” coloca frente a frente dois heróis icônicos em um confronto que vai além de um simples embate físico.
Sob a manipulação de um vilão que instiga ambos a questionarem o poder e a forma de usá-lo, somos levados a refletir sobre algumas questões essenciais: Será que a justiça pode ter diferentes interpretações? É possível um homem manter-se inabalável e incorruptível diante de seu próprio ego e poder?
Essas perguntas emergem porque o filme explora os contrastes e possíveis contradições entre dois dos heróis mais admirados da cultura pop e do cinema mundial: Batman e Superman.
Cada um representa uma face distinta de um mesmo ideal de justiça, levantando debates sobre ética, poder e moralidade.
O Papel Decisivo de Lex Luthor no Conflito entre Batman e Superman
O vilão Lex Luthor é uma peça central na trama de “Batman vs Superman”.
Motivado por sua obsessão por poder, Luthor elabora um plano que coloca Batman e parte da sociedade contra Superman, criando uma atmosfera de tensão e expectativa.
Seu intuito é revelar as possíveis falhas desses heróis – seja em suas personalidades ou em seus métodos de justiça.
Luthor, embora excêntrico e sarcástico, desafia a imagem imponente e quase divina do Superman, enquanto também expõe um lado mais sombrio e autoritário de Batman.
A habilidade de Luthor de manipular os eventos e colocar os dois heróis em rota de colisão faz com que o público questione: até que ponto heróis devem agir como justiceiros e o que os diferencia de vilões quando cruzam certos limites?
Batman e Superman: Visões Contrastantes de Justiça
Manipulado pelas ações de Luthor, Batman começa a ver Superman não como um herói, mas como uma ameaça potencial, devido ao seu poder ilimitado. O temor de que alguém com tanto poder possa causar destruição – ainda que acidental – leva Batman a questionar os riscos de se permitir que uma única entidade seja tão poderosa.
Essa preocupação não é infundada; ela reflete muitas situações históricas em que o poder concentrado nas mãos de poucos resultou em guerras e na perda de vidas inocentes.
Por outro lado, Superman vê em Batman uma figura que opera fora dos limites da lei, usando métodos questionáveis para combater o crime, como marcar criminosos com seu emblema e usar força excessiva para obter confissões.
A abordagem de Superman ao crime é limitada pela necessidade de evitar causar dano desproporcional aos humanos que enfrenta. Ele possui superforça, visão de raio-X, e uma série de outras habilidades que poderiam facilmente resultar em morte, mas escolhe usar seu poder com moderação.
Batman, no entanto, mesmo com suas habilidades de combate e inteligência, precisa operar dentro de suas limitações humanas. Ao enfrentar o crime, especialmente os criminosos mais perigosos, ele adota uma postura mais agressiva e tática, o que muitas vezes o leva a cruzar a linha entre a justiça e o excesso.
Isso reflete também um dilema presente em situações reais, onde forças policiais ou figuras de autoridade, ao confrontarem a criminalidade, podem cometer excessos.
O Limite do Poder e da Justiça
“Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades” – esta frase, imortalizada por Stan Lee, se aplica a qualquer debate sobre justiça e poder.
Em “Batman vs Superman”, vemos como tanto Batman quanto Superman são confrontados com os limites de sua própria moralidade e o risco de que o poder, por mais bem-intencionado que seja, pode corromper.
A senadora Finch, no filme, levanta uma questão pertinente: será que até mesmo heróis não devem ser submetidos às leis que protegem a sociedade do abuso de poder?
Este é um ponto crucial que nos remete ao pensamento de Nietzsche: “Quem combate monstros precisa tomar cuidado para que isso não o torne um monstro”. Tanto Batman quanto Superman enfrentam essa realidade. Batman, ciente das complexidades da justiça, reconhece que “ninguém permanece bom neste mundo”. Ele admite que a luta contra o mal pode facilmente corromper até mesmo o mais virtuoso.
Luthor também desafia a ideia de que alguém com poder absoluto, como o Superman, pode ser completamente bom.
Ele levanta um paradoxo moral, inspirado pelo pensamento de Epicuro: “Se Deus é todo-poderoso, ele não pode ser de todo bom, e se ele é de todo bom, não pode ser todo-poderoso”. Este questionamento faz o público refletir sobre as falhas de qualquer poder absoluto e o potencial de corrupção inerente a ele.
Conclusão
“Batman vs Superman” nos deixa com uma mensagem poderosa: a justiça, para ser verdadeira, deve sempre ter um princípio regulador.
Embora o filme questione o poder e as suas implicações, ele também sugere que é preferível um ideal de justiça que atue como guia, mesmo com suas falhas, do que uma sociedade sem esperança de ordem, onde o caos prevalece.
A frase de Victor Hugo, “Quem poupa o lobo, sacrifica a ovelha”, resume bem a complexidade do personagem Batman, pois a abordagem desse herói, mais direta e, às vezes, severa ao combate ao crime é um reflexo da sua realidade como um ser humano sem superpoderes, mas que luta para manter a ordem em um mundo que muitas vezes parece inclinado ao caos.
Por fim, o filme serve como um lembrete de que, embora os heróis sejam símbolos de esperança, eles também são falíveis e sujeitos às mesmas tentações e dilemas que qualquer ser humano enfrenta. E talvez seja justamente essa humanidade, com todas as suas contradições, que os torna tão fascinantes.
Autor: Juliano Alventino